sexta-feira, 21 de maio de 2010

WWF é Capitalismo Verde!

FAO e WWF: Deus os cria e eles promovem ‘florestas plantadas’ juntos

Como evidência do anterior, a FAO acabou de divulgar um relatório (1) que prova que nós e muitos outros temos estado completamente enganados: o desflorestamento na Ásia não apenas não está acontecendo; as florestas na realidade tiveram uma expansão durante a última década! O relatório diz: “A Ásia, que tinha uma perda líquida [em área florestal ] nos anos 1990, registrou um ganho líquido de floresta no período 2000- 2010!. Aleluia!
Como aconteceu tal milagre? Bom, em primeiro lugar não é um milagre (é uma fraude) e em segundo lugar não aconteceu (é uma mentira). Como o relatório da FAO acrescenta, o “ganho líquido de floresta” foi “devido principalmente ao reflorestamento em longa escala registrado pela China”. Isso significa que aquelas plantações “registradas pela China”- definidas pela FAO como “florestas”- podem contra-arrestar as “contínuas e altas taxas de perda líquida em muitos países do Sul e Sudeste da Ásia.”
Como acima afirmado, é apenas uma questão de definições. Conforme os “especialistas” da FAO, qualquer área coberta por árvores é uma “floresta”. O que significa que se as florestas são destruídas- como elas foram, de fato- na Indonésia, Malásia, Laos, Camboja, Índia, etc. a área florestal da Ásia não será alterada se uma área similar for plantada com monoculturas de árvores em outro país da Ásia: no caso, a China.
Mas o problema não está restrito à Ásia. A FAO afirma que “As plantações de árvores em grande escala estão reduzindo significativamente a perda líquida de área florestal em nível global.” “A mudança líquida de área florestal no período 2000- 2010 está estimada em – 5,2 milhões de hectares ao ano (uma superfície similar ao tamanho da Costa Rica), menos que os – 8,3 milhões de hectares ao ano no período 1990- 2000.
Sob esta abordagem fraudulenta, todas as florestas do mundo podem ser destruídas e substituídas por plantações de monoculturas de árvores (eucaliptos, pinheiros, acácias, dendezeiros, seringueiras) e a “área florestal líquida” não irá mudar. Em conseqüência, a FAO poderá anunciar afinal a boa notícia de que o desmatamento foi detido!
Devido ao crescente número de pessoas e organizações que questionam a definição não científica de “floresta” criada pela FAO e à crescente oposição às plantações de monoculturas de árvores em grande escala, outra organização vem intervindo para fornecer apoio tanto à FAO quanto às empresas plantadoras: o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Esta jogada não é uma surpresa haja vista o papel do WWF em processos em prol das corporações tais como a Mesa Redonda sobre o Óleo de Dendê Sustentável, a Mesa Redonda sobre a Soja Responsável, a Aqüicultura Sustentável e a certificação das plantações de monoculturas de árvores pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC).
Enquanto é difícil ver como a vida silvestre que o WWF supostamente visa proteger – liderado pelo carismático urso panda que usa como logo- pode ser beneficiado com as plantações de monoculturas de árvores, o fato é que o WWF está liderando e coordenando um processo chamado “Projetos de Plantações de Nova Geração” (2,3). Participam do projeto as conhecidas empresas plantadoras que incluem a Forestal Oriental (uma subsidiária da finlandesa UPM/ Kymmene no Uruguai), a Mondi (África Do Sul), a Portucel (Portugal), a Smurfit Kappa Carton de Colombia (empresa irlando- holandesa que opera na Colombia), a Stora Enso (sueco-finlandesa), a UPM Kymmene (Finlândia), bem como o Departamento Florestal de Sabah (Malásia), a Administração Florestal Estatal da China e a Comissão Florestal do Reino Unido.
O que o WWF está fazendo na realidade é promover a expansão das monoculturas de árvores e ajudando a maquiar de verde a duradoura- e bem documentada- história de atividades destrutivas, presentes e passadas, das companhias e organizações envolvidas nesse projeto. Ao mesmo tempo, está ajudando à pressionada FAO ao continuar com a definição das plantações de árvores como “florestas plantadas”, e assim enfraquece a crescente demanda da sociedade civil por uma mudança na definição que tem servido em muito às empresas plantadoras para encobrir a verdadeira natureza negativa dessas monoculturas.
Diz a lenda que o matemático, físico e filósofo italiano Galileo Galilei murmurou a frase “Eppur si muove” que significa “ E, no entanto se move” depois de ser forçado a se desdizer em 1633, antes da Inquisição, de sua crença de que a Terra se move ao redor do Sol. É nesse sentido que esperamos que alguns funcionários sérios da FAO e os ativistas honestos do WWF sejam ouvidos ao murmurarem: “E no entanto as plantações não são florestas”.
Fontes:
(1) http://www.fao.org/forestry/static/data/fra2010/KeyFindings-en.pdf
(2) http://assets.panda.org/downloads/newgenerationplantationsreport2009.pdf
(3) http://www.panda.org/what_we_do/footprint/forestry/sustainable_plantations/newgenerationplantations/
Boletim número 153 do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
Editor: Ricardo Carrere

Um comentário:

Henrique Marques disse...

Acredito que deve existir muita cautela em fazer indagações como estas. É válido para instigar o debate e acalorar a discussão, se este for o caso, mas particularmente não vejo a WWF-Brasil como uma exploradora dos recursos naturais, e seus projetos são em sua grande maioria conservacionistas o que siguinifica que está contribuindo para a redução de explorações em áreas de ecossistemas vulneráveis fazendo com que se preserve também os seres que ali vivem inclusive o ser humano.
É claro que hoje em dia não podemos mais restaurar o planeta como era a alguns anos atrás, com muitas áreas preservadas e pouca exploração, então, a jogada da vez é tentar consiliar e adaptar a situação atual com a garantia de recursos para nós e as gerações vindouras.