terça-feira, 25 de maio de 2010

Educação Ambiental e Desenvolvimento: ainda um discurso da elite

25/05/2010

As concepções que envolvem o discurso ambiental devem ser reinventadas de modo que se busque outra forma de se relacionar com ela. Partimos do principio do sujeito ecológico, este deve ser trabalhado de forma mais substanciada e fundamentada trazendo para a discussão as inter-relações e interdependências e mais, a condição inseparável entre o sujeito ecológico e o ambiente que nos cerca.
Observamos uma evidente discussão sobre o papel da educação ambiental enquanto ferramenta que extrapole articulações e ações pontuais, mais próximas de discursos que não aprofundam a discussão e se caracterizam por uma elite econômica, social e acadêmica, centralizando buscas para reinventar outra educação ambiental que não passam de ortodoxias.
Por isso que quando Layrargues fala com toda a propriedade sobre fazer educação ambiental com compromisso social reestruturando a compreensão da educação ambiental com os da justiça ambiental, desigualdade e transformação social observo o quão longe estamos desse caminho. Percebemos, assim, um grande debate em torno das reais funções que a educação ambiental pode desenvolver, instigada principalmente por estudiosos e intelectuais da área. Ao mesmo tempo, observamos que grande parte deste debate está longe das camadas populares, que não são consultadas nem ouvidas, ficando a margem das discussões.
Então pensemos, como discutir uma educação ambiental conectada com os processos sociais de base? Sabemos que os grandes danos naturais se concentram em áreas periféricas, causando inúmeros problemas de sobrevivência, problemas estes conectados com as relações de desenvolvimento econômico e social, falta de políticas públicas ambientais, descasos dos governos e a idéia de separação do “desenvolvimento de sociedade” das questões políticas ambientais.
Esta separação se torna extremamente absurda quando temos o entendimento que todos somos parte integrante de um meio ambiente diverso e que grande parte do “desenvolvimento econômico” de nosso país passa pela exploração abusiva, sem nenhum retorno, dos bens naturais. Desta forma, fica nítido que quem se beneficia são grandes indústrias e corporações que alimentam seus bolsos, mantém subempregos e ainda dizem que estão desenvolvendo o país. Mas que desenvolvimento é este? Quem são os sujeitos que se beneficiam diretamente? Desta maneira, abre-se a discussão do papel que a educação ambiental pode realizar e que não vem desenvolvendo, pois, tem medo de fazer um debate franco, aberto, com ampla participação popular, ficando imersa em pequenos nichos intelectuais que também fazem parte do topo da pirâmide econômica.
Portanto, por mais que se discutam outras formas de trabalhar a educação ambiental com um novo olhar, como diz Quintas, abolindo a dominação inerente à organização social vigente, a pergunta que deixo é qual prática utilizaremos para reinventar e transformar nossa relação com ambiente ao ponto de transformarmos nossa vida cotidiana com qualidade, respeito, independentemente de classes sociais? Sabemos que a educação ambiental também é política, que muitas vezes se traduz em poder, e até que ponto a gestão ambiental pública está disposta a dialogar de forma horizontal com os sujeitos da ação de forma a empoderá-los e emancipá-los para juntos pensarmos e repensarmos outros rumos, ou uma nova concepção de gestão?
Além de pensar uma nova gestão ambiental pública, que se torna a cada dia mais imprescindível e aumentar a participação social e os projetos de reestruturação de concepções ambientais repensando formas de manejo, políticas de fortalecimento dos biomas, de sustentabilidade em áreas urbanas e rurais e de um ecodesenvolvimento, devemos nos apropriar de quais ferramentas iremos dispor realizando um amplo debate de concepções políticas.
Sabemos que existem duas correntes que discutem o papel da educação ambiental dentro do contexto político, econômico e social vigente, os reformistas, que defendem apenas reformas mantendo a estrutura econômica intacta, ou seja, são o ortodoxos capitalistas que vem explorando o ambiente, degradativamente, em prol dos próprios benefícios e em nome do aprofundamento das desigualdades econômicas e sociais, e o tranformadores, que pensam uma outra forma de educação ambiental, repensada e reinventada, entendendo que o estado tem que passar por profundas mudanças políticas, econômicas e sociais para que possamos avançar neste debate de forma a entender que o papel dos estados nacionais, para que ocorra um pleno desenvolvimento, passa por trazer a tona uma nova forma de trabalhar as políticas ambientais, seu manejo, novas alternativas sustentáveis que contemplem não apenas a elite do país, mas que de fato democratize e compartilhe as descobertas e os avanços fazendo com que as diferenças sociais diminuam, ou caminhem para não existir mais.
A educação ambiental carrega consigo a possibilidade de abrir este diálogo a partir da socialização destas discussões, onde os intelectuais e pensadores da área se coloquem de que lado realmente estão e façam este debate ocorrer sem demagogias, encarando a conjuntura política, econômica e social atual como insustentável para as práticas ambientais compreendendo que se não houver ampla participação dos movimentos populares, ONGs, movimentos ambientalistas e da sociedade civil como um todo, estaremos caminhando rumo a total destruição do pouco que resta, com a chance de parte da economia e da política nacional entrar em colapso em um futuro próximo.

Marco Antonio Baratto
Pedagogo
Ong Amigos das Veredas

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