sábado, 6 de março de 2010

Chumbo vaza do aterro sanitário de Bauru e contamina lençol freático

Emdurb ainda não tem informações sobre proporção da contaminação; local tem deficiência em impermeabilização

A deposição de lixo de diferentes origens no aterro sanitário de Bauru levou à contaminação do Aquífero Bauru por chumbo. A constatação foi feita pela Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb), responsável pela gestão do aterro. O presidente da empresa, Nico Mondelli Jr., disse que está analisando as circunstâncias da ocorrência para adotar medidas de contenção.
O prefeito Rodrigo Agostinho (PMDB) confirmou que uma análise da água do subsolo do aterro, ou seja, do Aquífero Bauru, realizada ainda no final do ano passado, apontou a contaminação por chumbo. O governo municipal, entretanto, apresentou pouca informação a respeito. Procurado pelo Jornal da Cidade, o gerente da Agência Ambiental da Cetesb em Bauru, Marcelo Antunes Ribeiro, disse que não sabia do problema.
Embora saiba do assunto, o atual presidente da Emdurb, Nico Mondelli, tergiversou ao falar do caso. "Nós estamos vendo isso para tomar as medidas necessárias. Há um problema que apareceu com chumbo, mas estamos vendo as informações", disse.
Nos bastidores, por outro lado, a gravidade toma proporções maiores. Um dado é de que a Emdurb deveria ter feito a análise da água do subsolo na área de influência do aterro sanitário há pelo menos um ano, mas isso não teria acontecido. Depois disso, ao tomar conhecimento dos focos de contaminação, no final de 2009, a empresa municipal tratou de não levar o caso para avaliação da Cetesb.
O JC apurou que a contaminação por chumbo na água analisada é altíssima, cerca de pelo menos 38% acima do limite permitido. Mas outro produto químico também pode ter afetado a qualidade da água na região. O caso já pode estar gerando prejuízos a terceiros, o que complica ainda mais a postura da administração da Emdurb, que até 21 de janeiro passado estava nas mãos de Rubito Ribeiro, atual assessor de Gabinete do prefeito Rodrigo Agostinho.
A água daquela região é consumida pelas duas penitenciárias estaduais – P1 e P2 - e há uma fábrica de doce instalada muito próxima do aterro, que se abastece da mesma água que apresentou contaminação. A Emdurb ainda não tem resposta sobre o que causou a contaminação do aquífero.
Uns falam que a origem seria uma suposta fábrica de bicicletas, outros que seria devido ao depósito no aterro a terra retirada da antiga área contaminada por chumbo pela fábrica de baterias Ajax, há alguns anos. E outros apontam que o chumbo em índice elevado presente na água do subsolo teria origem em antiga deficiência de impermeabilização no aterro.


Problema antigo
O prefeito Rodrigo Agostinho suspeita que a contaminação do lençol freático por chumbo ocorreu devido à deficiência na impermeabilização do aterro sanitário, onde é depositado todo o lixo domiciliar recolhido em Bauru – cerca de 250 toneladas por dia. Até alguns anos, o aterro não tinha sistema seguro de impermeabilização, mas apenas um isolante superficial, segundo o Executivo atual.
"Houve uma análise em um primeiro momento e deu presença de chumbo. Vamos avaliar. O sistema que envolve o aterro apresentou esse problema em um ponto. A causa pode tanto ser de terra vinda de uma área de produção de baterias, que foi levada para o aterro no passado, quanto de produtos químicos que dissiparam, ou até de restos de tinta jogados misturados ao lixo", comentou o prefeito.
Agostinho reconhece a gravidade do problema, apesar do caso estar sendo tratado como "segredo" pela Emdurb. "A contaminação por chumbo preocupa e é séria. A sorte é que, em relação a outros produtos químicos, o chumbo tem pouco poder de deslocamento, fica concentrado em um ponto menor. Vamos ter de atacar essa questão", mencionou.
Ao saber pelo JC que o lençol freático na altura do aterro sanitário está contaminado por chumbo, o diretor da Agência Ambiental da Cetesb disse que espera ser informado oficialmente do caso. A partir daí, a Emdurb terá de fazer a investigação para confirmar a contaminação e sua dimensão e apresentar proposta de remediação, tudo de acordo com o que prevê a legislação.
Por sorte, a possibilidade de água contaminada com chumbo ser distribuída pelo Departamento de Água e Esgoto (DAE) à população de Bauru é praticamente zero. Todos os 28 poços profundos da autarquia estão no Aquífero Guarani, que fica abaixo do aquífero Bauru.
Mas se a quantidade de chumbo for grande, pode passar de um para outro aquífero no decorrer dos anos. Outro fator que tranquiliza a população é que os poços estão longe do aterro sanitário. Mesmo o que fica mais perto, no Distrito Industrial 3, fica a vários quilômetros do ponto onde foi detectada a contaminação.

____________________

Cetesb aplicou multas que somam R$ 65 mil

Até poucos anos, o aterro sanitário de Bauru era considerado modelo no Estado. Mas com a vida útil já esgotada, agora acumula advertências e duas multas, que somam cerca de R$ 65 mil, aplicadas pela Cetesb. O gerente da Agência Ambiental da Cetesb em Bauru, Marcelo Antunes Ribeiro, explicou que os dois problemas que motivam multas são: deposição de lixo na quarta camada sem que o órgão ambiental estadual tenha autorizado a medida e má operação do aterro.

A quarta camada do aterro, ou seja, aumentá-lo na altura, é considerada a única alternativa a curto prazo para a destinação correta do lixo. Sem ela, Bauru não tem onde colocar seus detritos. "A Emdurb pediu autorização para operar a quarta camada, mas a Cetesb avaliou que o projeto não atendia as necessidades ambientais e pediu complementação, isso no final do ano passado. O licenciamento da quarta camada ainda está em andamento e, por enquanto, não poderia ser operada", afirma Ribeiro.

Antes das multas, a Cetesb advertiu a Emdurb, em dezembro de 2008, pela irregularidade de operação da quarta camada. Em maio do ano passado fez nova advertência devido à queima de lixo ao ar livre. E em setembro, pelo fato de a lagoa de chorume ter transbordado.

Então, em novembro do ano passado aplicou multa de 2 mil Ufesps (cerca de R$ 32,8 mil) pelo uso irregular da quarta camada e outra no mesmo valor pela má operação do aterro sanitário. Numa nova fiscalização da Cetesb ao aterro, que ocorre várias vezes ao ano, se for apontada necessidade, poderão ser aplicadas novas multas se as irregularidades não forem sanadas. A Emdurb pode recorrer das multas.


____________________

Contaminação de metal é nociva à saúde humana

O chumbo é um metal nocivo à saúde humana. Além de causar anemia, pode comprometer os sistemas renal e gastro-intestinal do indivíduo, causando diarréia, dores abdominais e vômitos. O sistema nervoso também pode ser afetado. Nesse caso, a pessoa contaminada está sujeita a sofrer crises de epilepsia, dores de cabeça, além de alterações no sono, comportamento, podendo, inclusive, refletir na aprendizagem da criança.

E Bauru ficou conhecida nacionalmente por contaminação de chumbo em 2002, quando a fábrica de baterias Ajax foi interditada pela Cetesb porque a chaminé da unidade, localizada no Jardim Manchester, saíam partículas de chumbo, que contaminavam o ar, o solo e a água.

Mais de 300 crianças que moravam nas proximidades da fábrica e cujos exames de sangue apontaram que estavam contaminadas passaram a ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar. Como medida de remediação, a empresa raspou a terra superficial de ruas e quintais das proximidades da fábrica, onde o nível de contaminação era mais alto.

Na época, a informação é que esta terra, que lotou mais de 200 caminhões, havia sido guardada dentro da própria fábrica, que teria de dar destinação correta ao material. Agora surge a informação a que terra contaminada com chumbo foi depositada no aterro sanitário.
Nélson Gonçalves e Ieda Rodrigues

Nenhum comentário: