quinta-feira, 18 de março de 2010

Cadê o restante dos vídeos?

Caso Arruda não acaba até divulgação de todos os vídeos, dizem analistas.

 O governador foi cassado e não sabe se recorrerá, o vice renunciou, deputados foram afastados, o Democratas ganhou seu mensalão no currículo e a Justiça pela primeira vez mandou prender um chefe do Poder Executivo durante seu mandato. Ainda assim, o escândalo no Distrito Federal está longe de acabar porque nem todos os vídeos que causaram os primeiros abalos foram divulgados, disseram analistas ao UOL Notícias.Na terça-feira (16), o Tribunal Regional Eleitoral local (TRE-DF) cassou o mandato do governador afastado e preso, José Roberto Arruda (sem partido), por infidelidade partidária. Ainda cabe recurso à decisão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas a defesa do mandatário não sabe se o fará porque, com o mandato cassado, haveria maior possibilidade de Arruda deixar a carceragem da Polícia Federal em Brasília. 

Embora o Democratas – ex-partido de Arruda – e o governador interino do DF, Wilson Lima (PR), queiram dar a crise por encerrada, especialistas acreditam que os vídeos ainda não divulgados da coleção do ex-secretário Durval Barbosa poderão envolver mais pessoas e instituições e que essa ameaça ficará no ar de maneira que não permita dar por concluída a turbulência no governo candango.

“Até agora vimos cerca de 30 vídeos. A estimativa é que haja 150. Todos sabem que Arruda é cria política do ex-governador Joaquim Roriz. Roriz quer voltar ao cargo e é favorito nas pesquisas. Mas o que garante que ele não aparece em nenhum vídeo que o comprometa? O que garante que o PMDB, de onde o ex-governador saiu para entrar no PSC, também não será ainda mais envolvido? A crise não acabou”, disse Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP).

Nas pesquisas de intenção de votos mais recentes, Roriz é o favorito para vencer a disputa da sucessão no DF, apesar de estar cercado de denúncias de corrupção que, inclusive, o levaram a renunciar à sua cadeira no Senado após as eleições de 2006. A oposição ainda não definiu seu candidato e o governador interino, Wilson Lima, pode não ter a chance de se candidatar à reeleição porque seu partido articula para compor chapa exatamente com Roriz.
“Enquanto não aparecerem os vídeos não divulgados, haverá suspeita no ar, troca de acusações sem comprovação, chantagem. Tudo isso deixa o cenário muito indefinido”, completou Dias. O escândalo envolveu a cúpula do governo do DF, deputados distritais, líderes partidários e empresários em um esquema de compra de apoio político com dinheiro fornecido por interessados em vencer licitações públicas.
Para Ricardo Caldas, professor da Universidade de Brasília (UnB), “o desfecho para Arruda e o prejuízo eleitoral para o DEM já são bem previsíveis”, mas continuam o problema da sucessão no Distrito Federal, a possibilidade de intervenção federal e o suspense sobre a existência de mais vídeos. “Maior sinal de que essa crise não passou é o fato de que as instituições continuam sem capacidade de brecar a corrupção endêmica, que passa pelo caixa dois, e que segue intocada”, afirmou.
Risco na oposição, lucro na Justiça
O professor Caldas diz também que, caso novos vídeos envolvam mais políticos e instituições em denúncias de corrupção, “pode haver uma defesa geral do sistema, um pacto para livrar minimamente tanto o governador, que hoje sairia ganhando só em sair da cadeia, como os outros novos implicados”.
Esse risco aumentaria caso surjam vídeos sobre o admitido encontro do pré-candidato do PT ao governo, Agnelo Queiroz, com o jornalista Edson Sombra. Nessa reunião admitida pelo neo-petista, ele assiste às imagens de Arruda recebendo dinheiro, o que não comunicou a ninguém.
“Depois do comentário de que o vídeo poderia existir, o PT começou a brigar e agora Agnelo tem que enfrentar o deputado Geraldo Magela”, diz o professor da UnB. “Além disso surgiram denúncias de que a mansão do Agnelo em uma área rica está subvalorizada na declaração. Some a isso o fato de ele ser novo no PT – acabou de sair do PC do B só para ser candidato. A oposição também está indefinida na crise.”
Cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Francisco Fonseca avalia que embora o desfecho da crise em Brasília não esteja no horizonte, o Poder Judiciário já ganhou pontos. “Quem mandou prender foi o Supremo Tribunal de Justiça (STJ). O Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a decisão. E o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) cassou o mandato de Arruda, em uma decisão que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tende a referendar”, enumerou.
“Foram passos históricos para o Brasil melhorar a qualidade das suas instituições políticas. Se não é novidade a perda de mandato nesses casos de corrupção, porque a Justiça já tomou mandatos antes neste país, a atenção da situação do DF serve para impulsionar a sensação de que estamos prestando atenção ao que fazem os políticos.”
Maurício Savarese
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Nenhum comentário: