domingo, 6 de dezembro de 2009

504 Anos de Destruição Ambiental Uma Lição a Ser aprendida


O nível de destruição ambiental a que chegamos nos primeiros 5 séculos de história do Brasil é alarmante e as próximas gerações estarão condenadas a um futuro sombrio se não aprendermos a valorizar e usar de forma racional os recursos naturais. "Muitos problemas ambientais que enfrentamos hoje são resultado da mentalidade herdada dos colonizadores, que acreditavam no mito da natureza infinita e que, por isso, não precisava ser cuidada" Os sucessivos ciclos econômicos como a exploração do pau-brasil, cana e café causaram grandes impactos ambientais. Em termos de biodiversidade, a principal vítima foi a Mata Atlântica: do período colonial aos dias de hoje esse bioma já perdeu 93% de suas florestas, que originalmente cobriam 1,3 milhões de km² ao longo do litoral brasileiro. Em áreas específicas, como as florestas de Araucária no Sul do país, restam apenas 2% da cobertura original.

No século XX, esse padrão destrutivo se repete com a devastação de mais de 50% do Cerrado, em apenas 60 anos e de 15% da Amazônia, em menos de uma geração. A queima de florestas, ainda comum nos dias de hoje, era a prática mais emprega na preparação da terra para o plantio. Em 1711, o jesuíta André Antonil estabeleceu regras para orientar o plantio da cana-de-açúcar: "roça-se, queima-se e alimpa-se, tirando-lhe tudo o que pode servir de embaraço". Neste caso, o "embaraço" era a própria Mata Atlântica, cujas árvores serviam também como lenha para alimentar fornalhas da indústria do açúcar. Na visão de um escritor do século XVIII, essas fornalhas eram "bocas verdadeiramente tragadoras de matos" - calcula-se que para cada quilo de açúcar produzido queimou-se cerca de 15 quilos de lenha. A exuberância, imponência e riqueza da Mata Atlântica marcaram profundamente a imaginação dos europeus e contribuíram para criar uma imagem de terra paradisíaca, onde os recursos naturais pareciam inesgotáveis.

A redução da Mata Atlântica a níveis perigosos prova que isso não passava de uma fantasia. No período colonial, a exploração descuidada dos recursos naturais era justificada pela percepção da nova terra como mero potencial econômico para impulsionar a expansão mercantilista das potências européias da época. Essa é um trágica herança que ainda persiste no Brasil contemporâneo. Os períodos que marcaram os ciclos econômicos do Brasil-colônia estão repletos de exemplos de exploração predatória. No final do século XVIII, o crescimento das cidades e da população, resultantes da prosperidade do ciclo da mineração, gerou a necessidade de aumentar a produção de alimentos. Assim teve início a expansão da pecuária extensiva, associada a práticas danosas ao meio ambiente.

Os pastos naturais se degradavam com um ou dois ciclos de pastoreio e, ao invés de optar pelo replantio, optava-se por incendiá-los, na expectativa de que o fogo promoveria o crescimento de ervas comestíveis e garantiria a permanência do gado na área; este, por sua vez, era deixado solto, ocupando um espaço territorial bem maior do que seria necessário. Essa prática ainda se aplica, com a pecuária ocupando atualmente uma área gigantesca de quase 200 milhões de hectares e uma produtividade baixíssima, muitas vezes de menos de uma cabeça por hectare.

O ciclo do café, no século XIX, também foi marcado pelo descuido com o meio ambiente. O plantio dessa espécie africana, originalmente feito em áreas de sombra, foi cultivado no Brasil em espaços des florestados da Mata Atlântica. Um testemunha da época afirmava que para cada hectare que se pretendia abrir para a lavoura, de cinco a dez eram destruídos pelo fogo descontrolado. No século XX assistimos à destruição de ecossistemas como o Cerrado e a Amazônia. O Cerrado, como aconteceu com a Mata Atlântica, está sendo visto como um "embaraço que dever ser superado". Esse bioma vem se tornando um grande fronteira destinada à produção de grãos para exportação. Como caso da Amazônia, no início dos anos 70, apenas 1% da sua cobertura original havia sido destruída. Trinta anos mais tarde, 15% da floresta já haviam desaparecido. "Não devemos simplesmente lamentar, mas aprender com o passado e fazer diferente", diz Garo Batmanian, "principalmente integrando políticas e adotando medidas preventivas, ao invés de continuar, literalmente, apagando incêndios". Os dados mostram que existem um enorme potencial pouco explorado: nos Estados Unidos, por exemplo, as 376 áreas protegidas pelo Sistema Nacional de Parques daquele país recebem mais de 270 milhões de visitantes por ano, e geram receita de 10 bilhões de doláres e 200.000 empregos. No Brasil, das 93 unidades federais de conservação, apenas duas são lucrativas, os parques nacionais de Foz do Iguaçu e da Tijuca. A ironia maior é que a Costa Rica, um país 167 vezes menor que o Brasil, soube como aproveitar seus recursos e é hoje o principal destino para o turista estrangeiro que quer conhecer uma floresta tropical.

Fonte: Internet

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