quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Torrador de Café Anarquista Faça Você Mesmo!


Meyers é o torrador, empacotador, negociante e entregador que está por trás do independente e modesto Café Resistência. “Faço um pouco de tudo, eu venho do ativismo anarquista”, conta. “Ao invés de ser somente um fim em si mesmo, [o café] é uma maneira de criar comunidade e fomentar estas metas sociais.”

“Eu não amo torrar café”, diz David Meyers. “Não quero passar minha vida fazendo isso. Só quero fazer isso em um ou dois dias na semana.”

Meyers se debruça sobre o Bean Boss, uma grelha a propano adornada com um espeto, um motor, e um barril cilíndrico. Ele está escutando alguma coisa familiar ao som do carvão em brasa, sinalizando que os grãos estão entrando em sua segunda fase de torração. Durante a primeira fase os grãos racham e batem ao redor do barril como pipoca; na segunda o óleo sobe para a superfície do grão.

Deixe o calor agir por um bom tempo e eles começarão a esfumaçar. De fato, o ar ao redor da garagem já está grosso com marcas de fumaça, de açucares de grão de café carbonizados. Meyers fecha o gás e, após alguns minutos, decanta duas libras de grãos pretos tostados em uma peneira montada sobre uma ventoinha colocada ao lado do Bean Boss. Uma vez esfriados, eles são pesados e colocados em pacotes de papel marrom blasonado com uma imagem do anarco-comunista russo Peter Kropotkin.

Meyers divide seu tempo entre Chicago e Union Pier, no Michigan, onde ele toma conta de um pequeno sítio orgânico localizado numa terra doada de 23 acres que é dividida entre muitos outros, inclusive a God’s Gang, uma organização sem fins-lucrativos da zona sul que educa adolescentes da cidade em assuntos como ecologia, agricultura urbana e paisagismo. Ele tem participado de várias causas de justiça social através dos anos, incluindo uma tarefa de 12 anos como voluntário no Centro Cultural Porto-Riquenho. Em 2004 Meyers tinha acabado de alugar seu primeiro sítio em Michigan e estava tentando levar isto adiante quando seu amigo curdo, Ibrahim Parlak, dono do Café Gulistan, em Harbert, foi preso e ameaçado de deportação.

Até então Meyers, que gosta de torrar café em sua própria casa, estava comprando grãos de café verde pela internet e os torrado para uso pessoal em uma panela para pipoca. Mas, coincidentemente, no dia anterior à prisão de Parlak ele comprou o Bean Boss por menos de 900 dólares no eBay. Enquanto o Condado de Harbor se mobilizava pela defesa de Parlak, Meyers percebeu que tinha uma oportunidade: “Eu poderia ter um bom café, fazer um pouco de dinheiro, levantar fundos para coisas legais nas quais acredito, e não ter que trabalhar para nenhuma outra pessoa”, explica. Ele ficou bastante ocupado, mas em poucas semanas conseguiu levantar 2.000 dólares para a defesa legal de Parlak vendendo pacotes de café por 20 dólares. Desde então, ele está levando uma vida divida entre o sítio e a torragem de café.

Hoje em dia Meyers torra cerca de 32 quilos de café por semana no sítio e na garagem (que pertence a um amigo, na zona noroeste), e os vende para um punhado de clientes que compram diretamente com ele ou através de seu sítio na internet, chicorycenter.org, onde você pode fazer o pedido. Atualmente ele está comprando os grãos de uma cooperativa de mulheres nicaragüenses através de amigos no Just Coffee em Madison, mas ele espera montar sua própria rede de compras em breve. Seus requisitos são bem simples. “O café tem que ter um bom pedigree politicamente”, diz ele – tem que ser honestamente negociado e cultivado organicamente. “Mas tem que ter também um sabor gostoso, e saboroso em diferentes níveis de torração”.

Até o começo do século vinte a maioria do café era torrado em casa com carvão ou em fogo aberto. Mas com a ascensão das empresas comerciais de café como A&P e Maxwell House essa prática quase que desapareceu nos Estados Unidos. Hoje a maioria dos cafés comerciais são torrados em ar quente, que produz uma remessa uniforme de grãos com um sabor levemente ácido. A torragem caseira, embora imprevisível, oferece ao torrador mais controle sobre o nível de torragem. A torragem mais escura – como o Café Kropotkin, atual combinação do Meyers – produz uma rica e achocolatada xícara de café.

O Café Kropotkin é vendido por 10 dólares a libra, e Meyers o levará até sua porta. Ele também vende grãos para levantar dinheiro para várias causas, entre elas o Chicago Women's Health Center, o West Town Bikes, e o Latino Union. Os “cafés beneficentes” são vendidos por 12 dólares a libra, e o dinheiro apurado tem três destinos – 4 dólares para as matérias-primas, 4 para Meyers e 4 para a organização. “Eles não têm trabalho com isso e traz novos compradores para mim”, diz.

Juanita Guerrero soube do Café Resistência através de um levantamento de fundos para o Latino Union há alguns anos atrás. “Eu vou para a Costa Rica uma vez por ano e sempre trago café de lá”, narra. “Eu não tinha achado nenhum café em Chicago que pudesse ser comparado com o que eu trazia, até encontrar o David”. Ela começou a levar o café para o escritório de justiça de Evanston onde ela trabalha como assistente administrativa e, ela disse, entusiasmada: “todo mundo ficou louco por isso!”. Agora eles estão comprando cerca de dez libras por semana.

Mas enquanto a demanda parece estar lá fora, Meyers não está interessado em expandir suas operações – na verdade, ele diz: “Eu passei anos tentando colocar um freio nisso”. Ao invés, ele e outro torrador, Michael McSherry, criaram a Confederação do Café de Chicago. Meyers conheceu McSherry, um músico e contratante de pintores freelancers, em um show de rock em março e logo depois o introduziu ao assunto. McSherry construiu sua própria versão do Bean Boss, e após algumas primeiras tentativas (sua terceira “fornada” acabou em chamas), logo já conseguiu vender seus próprios grãos sob o nome de Café Grinderman. Ele vende para seus amigos e pequenos escritórios, e ocasionalmente em clubes.

“Entregar café é divertido”, diz McSherry. “É uma coisa social. As pessoas são curiosas, e se gostam de café elas gostam de falar sobre isso também, e, normalmente, estão dispostas a provar dele”.

“Ele é como o cara do tamale”, diz Meyers. “Ele simplesmente vai aos shows e abre uma bolsa de café e espera as pessoas virem até ele”.

Agora Meyers recomenda novos compradores para McSherry; outro novato empreendedor do café, Daniel Tucker, editor no AREA Chicago, montou um sítio da internet da Confederação de Café de Chicago e planeja começar a torrar em outubro próximo. Através do site eles esperam compartilhar recursos, informações, excedentes de grãos, tarifas de mercado, e compradores, cada um recomendando novos compradores aos outros quando tiverem alcançado seus limites. Desta forma, ninguém fica escravo do Bean Boss.

Anarquist Resistance Coffee.: http://www.chicorycenter.org/resistancecoffee

Just Coffee: http://justcoffee.coop/

Grinderman Coffee: http://grindermancoffee.blogspot.com/

Chicago Coffee Confederation: http://chicagocoffeeconfederation.wordpress.com/

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana

Noite de insônia -
Perambulo pela varanda
contando vaga-lumes.

João Toloi

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