terça-feira, 14 de julho de 2009

Carta aberta do eco-anarquista estadunidense Hugh Farrrel




Hugh Farrell foi preso no dia 24 de abril de 2009, juntamente com Gina “Tiga” Wertz, acusados de formação de quadrilha por publicamente se organizarem contra a polêmica megarodovia I-69. As acusações pesam um máximo de 12 anos de prisão. O apoio ainda é indispensável, incluindo fundos, já que menos de um terço do total dos custos legais estimados em 30.000 dólares foi arrecadado até agora. Esta é a primeira declaração pública desde que foram presos.]

Para todos meus amigo/as e companheiro/as,

Nas oito semanas desde a nossa prisão, tenho me sentido mais coberto pela solidariedade de vocês do que pela perseguição do Estado. É como deveria ser, e freqüentemente me sinto incapaz de expressar o quanto sou grato pelas diversas iniciativas e esforços de levantamentos de fundos que tantos de vocês têm empreendido desde então.

Durante alguns momentos de isolamento, das vezes quando a repressão está tão palpável que mal posso respirar, as ações que muitos de vocês estão fazendo me mantêm firme e forte: as cartas, os abraços, as palavras inteligentes e carinhosas que têm sido ditas ou estão circulando. Apesar dos esforços das autoridades, permaneço como parte dos meus pares, das minhas comunidades.

Não devemos esquecer que são estas comunidades, estas relações e conexões, que estão realmente sob ataque, e de uma maneira ainda mais coordenada e sórdida. O Estado está criando uma maneira de tirar o foco da atenção quando clama que as manifestações espetaculares ou a desobediência civil são os maiores obstáculos para a construção da I-69. O que o Estado teme são as reuniões coletivas onde muitas pessoas podem sentar-se juntas para começar, por mais que incomodamente ou dolorosamente, a fazer senso de um projeto rodoviário que nenhum leigo jamais pretenderia se dar conta. O Estado teme estes momentos quando as pessoas jovens, marginalizadas, como eu, das cidades ou dos subúrbios e aparentemente desiludidos com tudo, começam a irromper de nossa isolação imposta e auto-imposta. Eles temem quando começamos a conversar com pessoas muito diferentes de nós, de nossos círculos, com camponeses e outros, sobre os impactos diferentes e similares que a I-69 terá sobre as nossas vidas.

É este potencial para a comunicação que está sob ataque, que a polícia chama de “formação de quadrilha”. Quando eles dizem “conspiração”, eles estão se referindo à nossa capacidade de respirarmos juntos.

Especificamente este é o porquê de eu estar tão agradecido a todos vocês, aqueles que eu já conheço e aqueles que ainda não conheci: todas estas potencialidades estão agora mais vivas em mim do que antes da prisão. Não me entendam mal, a repressão já tem exigido um custo alto. Ser legalmente capturado pelo Estado tem cortado muitos de meus relacionamentos, especialmente aqueles com pessoas socialmente mais distantes de mim, principalmente porque grande parte do meu tempo é gasto lidando com as questões legais. Esta é, é claro, uma das metas da repressão, e é um problema que ainda não me dirigi. Além do mais, outras pessoas têm sido sujeitas de perseguição ao meu lado – Tiga, é claro, as 16 acusações com os bloqueios atuais, Chad Frazier que foi sentenciado há dois meses pela resistência à I-69 (e que agora está livre novamente!), e muitas outras, em lugares mais distantes e envolvidas em “outras” lutas onde estão sendo pegas em similares batidas, vigilância, e acosso governamental.

Deixe-me também escrever sobre algumas atualizações processuais pessoal. Contratei os serviços dos advogados que confio para lidar com as dimensões legais do meu caso. Igualmente, três semanas atrás, Tiga fez o mesmo, com uma empresa diferente. Isto significa que a vasta quantidade de dinheiro levantada desde que nós fomos afiançados tem ido para as nossas despesas judiciais, uma situação que, infelizmente, continuará pelos meses ou anos seguintes já que os custos processuais continuarão subindo. Em geral, minhas condições de fiança não têm sido muito onerosas; ter pedido permissão da corte para deixar Indiana é a restrição mais desafiante, já que isto torna mais difícil de ver as pessoas que amo.

Tem havido um enorme bloqueio de notícias sobre o nosso caso. Tanto que encontrei pessoas que acreditam que a história toda é somente um boato na internet ou um apelo por atenção. Aparentemente, lembrando a mídia, “que o que aparece é real, e o que é real deve aparecer”. Este é um óbvio ponto de partida da estratégia policial que em outros casos similares, onde prisões e batidas foram acompanhadas por um frenesi jornalístico. Nestas situações, a saturação da mídia e o escrutínio foram empregados como armas poderosas contra o/as acusado/as, assim nós podemos assumir que há razões específicas de não termos sofrido isso, ainda.

Desta forma, acredito ser muito importante se opor a este silêncio deliberado, chamando atenção e visibilidade ao caso, especialmente em seus elementos mais embaraçosos. É possível alcançar isto através de diversas maneiras, que lancem um holofote sobre a repressão na medida em que aparece no Medo Verde e no sistema carcerário como um todo, e não somente em nosso caso. E isto pode ser alcançado através de uma maior criatividade, ao invés de somente enviar comunicados de imprensa.

Freqüentemente se esquece que estas transmissões são em si mesmas um projeto. Neste ponto, os extremos de silêncio e as conversas sem sentido são as pré-condições para a repressão contra Tiga e eu, além de ser a base para a repressão contra os estratos sociais inteiros que estão sendo tarjado ao encarceramento. Daí, a pré-condição para socialmente responder à opressão deve ser um esforço coletivo para criar o espaço e a capacidade para comunicações reais (e encontros com diversos outros).

Existem muitas formas de você contribuir efetivamente com a nossa defesa. Levantar fundos tem sido muito útil e continuará a ser importante. Mas, além disso, uma dimensão mais importante de solidariedade é continuar aprofundando e estendendo os relacionamentos e as discussões sobre este caso. As acusações apresentadas contra Tina e eu são uma tentativa de espalhar o silêncio e o isolamento. Vamos evitar isto a todo custo. Respirando com você,

Hugh Farrell

25 de junho de 2009

Contato: freetigaandhugh@mostlyeverything.net

Mais infos: http://mostlyeverything.net/index.html

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana

Vento de inverno -
Sob o mesmo cobertor
família reunida.

João Toloi

Nenhum comentário: