sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O mercado , o Cassino e a Bolsa da Bruxa.

O lançamento do Setor Faroe$ste-A demonstração de um Estado militarizado.

Hoje champagne, caviar e um cardápio de quitutes de enorme charme e hipocrisia marcaram o lançamento no Distrito Federal do intitulado Setor Noroeste, obra bilionária do Governo local. O atual governador Arrruda e vice-governador Paulo Octávio (ambos DEM), figuras políticas de trânsito fácil entre os mais gabaritados ou pelo menos renomados caciques políticos nacionais, exaltaram ufanisticamente o pretenso primeiro bairro ecológico do país.

Brasília, celeiro exemplar das maiores atrocidades contra a humanidade, vitrine da morte de trabalhadores da Pacheco Fernandes, do assassinato brutal do indígena Galdino Pataxó, fantasmas que se repetem continuamente na história sangrenta da ocupação e expansão urbana, da virulenta especulação imobiliária que transformou essa terra num enorme Gulag da modernidade. Milhares de pessoas foram arremessadas de lugares inauditos, para as benesses da construção de áreas nobres da capital federal, onde a nobreza e a realeza de seus condomínios de luxo, da altura de suas varandas podem gritar estufando suas panças Brasília Übber Alles! o slogan do El Duce, Benito Mussolini "Nada fora do Estado, acima do Estado, contra o Estado" soa e reverbera sorrateiramente, ardilosamente nas falas falso cordiais, civilizadas e asquerosamente verdes do Setor Noroeste, com as mãos sujas de sangue e cívicas evoquemos a nossa moderna democracia.

Outrora Maria Antonieta se questionava sobre a situação de alguns miseráveis franceses, dizia "se não há pão por que não comem brioches". Figura histórica expoente da alienação de uma casta de pessoas que vivem numa estranha realidade, indiferentes, arrogantes, tal prepotência carnificada nas feições não somente de dominadores mas paradoxalmente em pessoas dominadas. Senti perplexidade num certo momento ao observar faixas de moradores da Estrutural, espaço do maior Lixão da capital, apoiando a construção do conjunto residencial Noroeste. Para quem não sabe, esse local não diferente de outros lugares de Brasília tem um complexo histórico de luta por moradia, algumas obras de infra-estrutura foram feitas recentemente com empréstimos do BID, menos por concessão do governo mas por critérios que favorecem a especulação imobiliária. Além disso, a Estrutural está localizada perto do Plano Piloto, isso representa área rentável para investimentos de empresas. Algumas obras já foram iniciadas como a derrubada de várias casas, famílias foram deixados em condição de miséria em barracões, lotes foram prometidos, escolas criadas, o Lixão vai ser destruído mas não em respeito à dignidade humana tão carecida, o resultado do uso e descarte de nossa sociedade voraz de consumo, ainda suga dinheiro da miséria e degradação do ser humano, em tal localidade repleto de urubus, doenças e crianças trabalhando por alguma renda, Deus morreu! o lixo e luxo de nossa civilização tão perto, se não há pão como afirmava Maria Antonieta ainda há circo.

Arruda se prolifera como erva daninha pela capital federal, a cidade-empresa é um lucrativo cassino para a bolsa de valores,uma bruxa solta pelos quatro cantos do mundo, cuja faceta a do mercado imobiliário, incorporadas em pessoas da alta nobreza ávidas por apartamentos no metro quadrado mais caro do país enfrentamos esse dia.Ressucitando inúmeras vezes JK para se perfilar, Arruda como estadista medíocre mas esperto em se armar empresarialmente utiliza todos os artifícios da propaganda e marketing, a imagem fala mais do que as pessoas. Somos hipnotizados pelo bombardeamento, uma blitzkrieg rápida de ataque mental, que quase nos convence a apoia-lo no momento de lapsos de senso crítico. Ele então bravateava algo como, "quem não nos apóia agora ainda vai nos apoiar!" Senti cheiro de enxofre nas suas primeiras baforadas, uma multidão excitada passou então a tietá-lo, forças policiais se puseram ao nosso redor, ouvia-se "Noroeste sim"! Animado pela ovação pública, incitava a população contra os/as manifestantes, população que respondia aos gritos o discurso do El Duce Arruda, fazendo ameaças a nós, com olhares feios e fechados tentaram nos intimidar. Lembrei do personagem do Dr. Stockman, do "Inimigo do Povo" de Henrik Ibsen que ao tentar alertar aos concidadãos de sua cidade numa assembléia pública sobre os perigos do projeto do governo local em utilizar as águas poluídas do balneário como ponto turístico, foi vaiado, sua casa depredada, sua família foi expulsa pelas pessoas que ele ousou defender. Esse fato presenciado e que relato hoje pela minha ótica singular, multiplica-se exponencialmente no curso da história, e remete a uma nítida atmosfera de medo e alienação característicos de regimes totalitários.

Foram vários tempos históricos transcorridos em algumas horas, vários dispositivos de dominação acionados e engatilhados para pulverizar qualquer manifestação pública contrária aos monólogos governamentais. Escutamos gritos de "Comunistas", "vão pra Cuba", parece que o Macarthismo foi reeditado no Planalto Central,a patrulha pró Noroeste desfilava de forma imponente e aplaudia a cruzada sagrada contra os/as indígenas. Voltamos então aos anos de 1500 a chegada e invasão de Pedro Álvares Cabral, esses mecanismos que parecem tão joviais e sofisticados, "o primeiro bairro ecológico do país", foram às caravelas de outrora, foi Hernan Cortes e Francisco Pizarro, foi à marcha para o Oeste norte americano, a prata explorada de Potosí,o ouro roubado de Ouro Preto, o continente africano explorado, o tráfico negreiro, o estupro da Mãe Terra, terra a vista ou a longo prazo, agora batizado de Setor Noroeste.

Rafa Kaaos

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